Isto não é sobre Burcas ou o Bangladesh

(Ou talvez seja. Mas também é sobre tudo o resto.)

Vivemos tempos em que parece que todos têm algo a dizer e, curiosamente, cada vez menos vontade de ouvir. As pessoas dividem-se, não tanto pelas ideias, mas pela necessidade de ter razão. Cada um ergue o seu pequeno castelo de argumentos, e lá de cima atira pedras verbais a quem pensa diferente. Esquecemo-nos, às vezes, de que argumentos existem para ambos os lados de quase todas as questões. Basta procurar e encontramo-los. Sempre.

Mas o valor de uma conversa não está em quem vence, está em quem entende. Em quem escuta com atenção suficiente para perceber que por detrás de cada opinião há uma história, um contexto, um sentir. Não se trata de abdicar das nossas convicções, mas de reconhecer que o mundo é mais vasto do que o nosso ponto de vista.

Respeitar a opinião do outro não é concordar com ela, é admitir que ela tem o direito de existir. É deixar espaço para o diálogo, em vez de o ocupar com desentendimento ou agressões verbais. É trocar certezas por perguntas, e orgulho por curiosidade.

No fundo, talvez o que falte não sejam mais opiniões, mas menos pressa em tê-las. Porque é melhor não ter opinião do que ter uma superficial, dessas que se formam em segundos, alimentadas por o que se vê na media, o que se lê nas redes sociais ou por emoções instantâneas. É preciso tempo para pensar, sentir, compreender. Ir ao fundo das questões, e não apenas à superfície dos debates de cabeça quente.

Talvez, se fizéssemos esse esforço, percebêssemos que isto não é sobre burcas ou o Bangladesh, É sobre humanidade. Sobre a nossa capacidade de coexistir sem nos anularmos em termos de opinião. De procurar, juntos, o que é melhor não apenas para mim, ou para ti, mas para todos nós.

Porque, no fim, o verdadeiro lado certo é aquele que serve o bem comum. E esse, curiosamente, nunca se encontra num grito. Mas num silêncio atento, onde há espaço para o outro existir.