Reflexão pessoal sobre o que se mostra e o que se preserva.

Vivemos numa era em que a visibilidade se tornou quase sinónimo de valor. Tudo precisa ser mostrado, partilhado, transformado em imagem, em vídeo, em “conteúdo”. A espiritualidade, que sempre foi território de recolhimento, silêncio e vivência interior, acabou também por ser puxada para este palco moderno, às vezes convertida no que parece quase um espetáculo, às vezes um desfile de moda.

Não é que haja problema em mostrar: as imagens podem inspirar, as partilhas podem abrir caminhos e despertar curiosidade em quem ainda procura. A modernidade trouxe-nos ferramentas extraordinárias de comunicação, capazes de encurtar distâncias e aproximar quem partilha a sua verdade. Porém, existe um lado delicado nesta equação: a espiritualidade não vive apenas do que se mostra, mas sobretudo do que se sente e se experimenta.

É neste ponto que nasce o dilema: até que ponto abrir as portas e até que ponto preservar a intimidade? Quem procura um espaço espiritual, muitas vezes, deseja segurança, recolhimento e discrição. Fotografar ou filmar cada momento pode nem sempre honrar esse desejo. Há cerimónias e encontros que pedem respeito e silêncio, outros que naturalmente se prestam à partilha. Reconhecer essa diferença é, em si, um ato de consciência.

Pessoalmente, procuro um equilíbrio. Sei que a visibilidade é uma exigência da modernidade, sem mostrar, muitas vezes, não se alcança. Mas também acredito que nem tudo deve ser exposto. Cada momento tem a sua natureza, e parte do meu trabalho é sentir essa fronteira: quando a partilha inspira e quando a privacidade protege.

Acredito que o caminho esteja na abertura gradual, feita com cuidado e com verdade. Mostrar o suficiente para que outros sintam confiança em se aproximar, sem nunca trair o sentido profundo do trabalho. No fim, a espiritualidade não precisa de palcos brilhantes: ela floresce na autenticidade, seja no silêncio de um círculo íntimo ou na força de uma imagem partilhada no tempo certo.

O espetáculo pode chamar atenção, mas é o trabalho real, invisível, íntimo, transformador  é que sustenta e dá sentido a tudo. O desafio é este: não perder os princípios na pressa de ser visto, mas também não fechar os olhos às possibilidades que a partilha consciente pode trazer.